quarta-feira, 27 de abril de 2011

"Assim como falham as palavras quando/ querem exprimir qualquer pensamento,/ assim falham os pensamentos quando/ querem exprimir qualquer realidade." Fernando Pessoa

Sei que a realidade propriamente não existe, pois os olhos não veem igual. Tampouco pessoas sentem igual.
Nesse mundo onde se perdem o real e o imaginário, o melhor e mais sensato a fazer é confiar nos seus instintos, pois o homem dito "humanizado" está cada vez mais longe disso.
Agimos irracionalmente a maior parte do tempo, porque de tanto raciocinar, de tanto inventar, de tanto querer... nos perdemos.
O homem agora, mais que tudo, necessita descobrir-se a si mesmo.

Adriana

Adiamentos...

Amanhã cortarei os cabelos
Depois de amanhã vou encher a cara
(por algum motivo que hoje ainda não sei)
Enfim, hoje não há o que fazer.
Vive-se amanhã.

Escrever....

Escrever é mesmo algo maravilhoso.
Acolhe, desnuda e embriaga.
(...)
Escrever é minha fuga
e minha rendição.

(15.12.2006)

Lembranças

Noite mal dormida
Febre. Devaneios.
Passeio pelo passado
Passado presente
O que faço de mim?!
Estou ausente
Gostaria de perder a chave...
Manter o baú fechado
Deixar que o tempo
e as traças
se encarreguem do que hoje
não sou capaz de fazer.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Vestes

"Você não é humilde." Meio sem contexto, você me despejou essa frase e desde então ela não me sai da cabeça. Afinal, veio a que propósito?

Humildade é uma virtude perigosa, pois nos dá o sentimento da nossa fraqueza. Reconheço não ser assim tão modesta, mas se há algo claro em mim é o sentir de minhas fraquezas. No entanto, evito submetê-las a outros por questão de segurança (ou será timidez?).

Ainda assim, é possível, mesmo a distância e em silêncio, você já ter perscrutado meus receios, adivinhando alguma fraqueza que, por orgulho, em vão tento esconder.

É preciso ser humilde para se deixar conhecer. É preciso nos submeter ao olhar alheio, e mais, é preciso estar inteiro - um olho curioso, perspicaz e atento facilmente desnuda. E lá estarão todas elas aos nossos pés.

Visto-me de orgulho, mas a roupa é leve, quase transparente.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Leio e me disperso.
Não sou eu, é o outro.
O outro em mim
pelo qual não respondo.
Poder de contestar.
Vontade de assumir como meu.
Leitura voraz, pertinente.
Eu, uma voz solitária
Embriagada de luares e
Clarices.

Texto 417, de O livro do desassossego, Fernando Pessoa.

"Não conheço prazer como o dos livros, e pouco leio. Os livros são apresentações aos sonhos, e não precisa de apresentações quem, com a facilidade da vida, entre em conversa com eles. Nunca pude ler um livro com entrega a ele; sempre, a cada passo, o comentário da inteligência ou da imaginação me estorvou a sequência da própria narrativa. No fim de minutos, quem escrevia era eu, e o que estava escrito não estava em parte alguma."
(...)

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Enquanto o sono não vem

São muitas as coisas que faço enquanto o sono não vem. Como uma insone vivo períodos de tensão, nos quais não tenho paciência com nada, nem com ninguém.

É aí que entram os livros e os desabafos. Escrevo para descansar do peso que carrego e, ao mesmo tempo, obter energia.

Na maioria das vezes estou na solidão do meu quarto, repleto de vozes e versos que ainda não pude ler. Mas como bem disse Rubem Alves "a leitura pode emburrecer". Não adianta ler um livro atrás do outro. Tem-se que refletir sobre ele, suas ideias, contestar ou qualquer coisa que não a mesmice de tão somente ir virando as páginas e consumindo as histórias, o que chega a ser um desrespeito com quem escreve.
Leitura sem raciocínio é engolir pensamentos de "outros".

Talvez por isso possua tantos livros ainda por ler. Não é somente falta de tempo - há sempre tempo para os grandes prazeres- é também o medo de não travar um diálogo com "os outros" a minha espera.
Então, resta-me os meus desassossegos. Os quais busco entender e solucionar, se possível, escrevendo-os.
Escrevo aleatoriamente, quando bate uma necessidade de dizer algo que nem mesmo sei o que é. E, às vezes, chego à beleza (há poucos dias disseram-me que não sou humilde), quase sempre incutida na tristeza.

São as palavras que me fazem companhia nas longas noites que passo acordada. Elas me revelam quem verdadeiramente sou e o sentido das coisas que faço...
Minhas amigas inseparáveis. Só lamento não poder expressar todo e qualquer sentimento. Porque há estados da alma que apenas o olhar capta e um bom abraço ameniza.